segunda-feira, 27 de julho de 2009

Alerta vermelho para Paulo Bento


João Nuno Coelho – Football Ideas

Os resultados obtidos pelo Sporting na pré-época foram os piores da era Paulo Bento. Facto ainda mais preocupante porque a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões está à porta.

Paulo Bento aceitou o desafio de nada mudar, acreditando que essa é a melhor forma de melhorar. Mas corre o risco de ser vítima da sua teimosia. As próximas semanas serão muito quentes para os lados de Alvalade. E o calor irá apertar especialmente no gabinete do treinador leonino: os holofotes da Liga dos Campeões farão aumentar a temperatura, na primeira temporada em que, além da três pré-eliminatórias, existe ainda um play-off final de apuramento para a fase de grupos.

Falhar a entrada no palco principal da liga milionária seria um duro percalço para os leões. Até porque os responsáveis do clube têm muitas vezes defendido que é mais importante ser segundo classificado no Campeonato, por causa da participação na Liga dos Campeões e consequentes proveitos financeiros, do que ganhar um título no meio de vários terceiros lugares.

Ora Paulo Bento, que leva quatro segundos lugares no campeonato em quatro temporadas de Sporting, representa exactamente a ideia de continuidade de um projecto, de manutenção da aposta num determinado modelo de clube. Um projecto assente num muito apregoado equilíbrio entre competitividade desportiva e sustentabilidade económica.

Ironicamente, o treinador leonino, um dos poucos que por essa Europa fora entram na sua quinta época consecutiva no mesmo clube (ver infografia na página seguinte), pode muito bem ser a grande vítima desta opção: os investimentos na equipa principal foram muito reduzidos (para já apenas uma contratação, a de Matias Fernandez), o conjunto apresenta carências óbvias em todos os sectores e a paciência dos adeptos já deu mostras de estar a desaparecer.

Como “grande” do nosso futebol, com milhões de adeptos em todo o país, a grandeza do Sporting não se pode limitar a um “estado de alma”, à nobreza de espírito ou a uma excelente academia de futebol juvenil. Precisa de se traduzir em conquistas desportivas, ainda mais em tempos em que o sucesso se tornou o valor mais importante e em que ser segundo equivale a ser o primeiro dos últimos.

Por tudo isto o duplo confronto com os holandeses do Twente, a iniciar já na próxima terça-feira, em Alvalade, ganha contornos de dramatismo. Principalmente para Paulo Bento, que continua a manifestar confiança absoluta na estrutura e modelo de jogo que vem construindo no Sporting, insistindo nas mesmas fórmulas e jogadores.

O problema é que os jogos até agora realizados mostraram um Sporting frágil, acusando grandes limitações, principalmente ao nível da criatividade e poder ofensivo. O novo “10”, Matias Fernandez, revela bons pormenores mas muita falta de ritmo; o meio-campo sofre da ausência do lesionado Izmailov, tornando-se demasiado previsível e lento; o ataque vive apenas de Liedson, apesar de Postiga estar em bom momento.

Mas o pior de tudo é mesmo a noção de que este plantel é demasiado curto para enfrentar as exigências de uma temporada longa (ainda mais dada a participação nesta fase da Liga dos Campeões), perante rivais que apresentam conjuntos com diversas alternativas válidas para cada posição do terreno. Esta fragilidade é particularmente evidente no ataque, onde existem apenas três jogadores (Liedson, Postiga e Yannick) para dois lugares. Nesse sentido, a chegada por empréstimo do jovem avançado equatoriano Felipe Caicedo (ex-Manchester City) pode ser uma boa notícia para Paulo Bento. E ainda mais se vier a tempo de enfrentar o Twente, que foi segundo classificado do campeonato holandês à frente dos históricos Ajax, PSV e Feyenoord.

Quadro 1: os jogos de pré-temporada do Sporting

Jogos

Resultado

Data e Local

Atlético do Cacém

v. 2-0

4/7 - Alcochete

Nottingham Forest

d. 0-1

11/7 - Albufeira

Feyenoord

d. 1-2

18/7 - Alvalade

V. Guimarães

e. 2-2

21/7 – Guimarães

Quadro 2: os jogos de pré-temporada do Twente

Jogos

Resultado

Data e Local

Shalke04

e. 0-0

4/7 - Gelsenkichen

Borussia M’gladbach

v. 2-0

14/7 - Monchengladbach

Swansea

d. 1-3

18/7 - Swansea

Braga

v. 1-0

21/7 - Braga


segunda-feira, 20 de julho de 2009

DOIS PARA MANTER O TANGO



por João Nuno Coelho


O FC Porto volta ao Sul para substituir os “abonos de família” do tetra-campeonato, Lucho e Lisandro, seduzidos pelos ritmos da canção francesa. Venham Bellushi e Falcao.

Dizer que El Comandante e Licha eram meia-equipa será um exagero, mas os números dos dois jogadores nas últimas quatro temporadas apontam para uma importância crucial da dupla na dinâmica de vitória do FC Porto. Como será a vida no Dragão depois do adeus argentino?

Antes tinham saído Anderson, Diego, Pepe, Bosingwa, Quaresma e Paulo Assunção. Agora o Porto de Jesualdo Ferreira vê partir mais duas referências centrais do seu modelo de jogo. E a saída de Bruno Alves (pelo menos) parece igualmente inevitável. Nos últimos três anos foi quase um onze completo e de enorme qualidade que deixou o Dragão e transformou o clube no maior vendedor de jogadores de toda a Europa.

Os custos desta estratégia têm sido apenas sentidos na Liga dos Campeões, na qual o FC Porto consegue cumprir os mínimos pedidos (chegar à fase de eliminatórias) mas não tem argumentos para lutar pelos lugares mais altos. Imagine-se um onze com Helton, Bosingwa, Bruno Alves, Pepe e Cissokho, Paulo Assunção, Anderson e Lucho, Hulk, Lisandro e Quaresma, e ainda com Rodriguez, Raul Meireles, Diego, Fernando, entre outros, no banco. Tudo seria, com certeza, diferente.

Para vencer o campeonato nacional, quase sempre tranquilamente, tem chegado e sobrado. Mesmo com tantas mudanças. O perfil de Jesualdo como treinador também ajuda, sempre capaz de “fazer” jogadores e integrá-los no seu sistema.

Veremos, agora, se a perda das referências principais do meio-campo, Lucho, e do ataque, Lisandro, não poderá ter custos ainda mais elevados, até porque o Benfica parece estar a mudar para melhor e o Sporting poderá melhorar exactamente por não mudar.

Isto porque os números de Lucho e Lisandro no campeonato nacional português são impressionantes. Em termos ofensivos, por exemplo, o FC Porto teve sempre o melhor ataque de cada um dos quatro campeonatos do tetra sendo que Lucho e Lisandro foram responsáveis em conjunto por 80 golos apontados e 29 assistências para golo. Ou seja, tiveram envolvimento directo em 109 golos dos 240 marcados pelo FC Porto nestas quatro ligas. As contas são simples de fazer: os dois argentinos estiveram em 45% dos golos. Números que dispensam mais comentários.

Para fazer esquecer tais contas, os portistas voltam a recorrer à Argentina. O tango ficará agora por conta de Bellushi e Falcao. O primeiro vem da Grécia, onde foi bi-campeão em época e meia ao serviço do Olympiakos. Tal como Lucho, é inteligente em campo, defensivamente trabalha muito e aparece bem na área para concretizar. O segundo, apesar de ser colombiano, fez a parte final da sua formação no River Plate (antigo clube de Lucho e de Bellushi) e não conheceu outro clube enquanto senior, tendo-se tornado um nome querido dos “hinchas” do River, que o baptizaram como “O Tigre”. É um avançado móvel, com grande impulsão e precisa apenas de marcar golos com mais regularidade.

A Bellushi e Falcao junta-se ainda Valeri, outro jovem médio argentino (23 anos) que chegará por empréstimo à Invicta, confirmando que depois de uma primeira inflexão portuguesa nas contratações para 2009/10 (Miguel Lopes, Varela e Beto) os portistas voltaram aos ritmos sul-americanos para tentarem continuar a dar música aos rivais lisboetas.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

NAS PORTAS DO OLIMPO


Por João Nuno Coelho


Cristiano Ronaldo, o Mister 94 milhões, tem já assegurado o seu lugar na história do futebol. Mas, com apenas 24 anos, pode almejar a ainda muito mais

Acima da conquista dos mais importantes prémios individuais em 2008, é a transferência-recorde mundial para o Real Madrid que coloca Cristiano Ronaldo no limiar do Olimpo dos maiores futebolistas de sempre. Os 94 milhões de euros que vestiram Ronaldo de blanco e os mais de 80.000 adeptos em êxtase presentes na impressionante apresentação do jogador no Bernabéu tornam o madeirense um verdadeiro caso à parte no actual “circo da bola” à escala planetária – pelo que joga, pelo que vende, pelo que apaixona. E fazem dele o maior candidado em actividade a entrar no clube muito restrito dos melhores de sempre, onde habitam apenas Pelé, Maradona e Cruyff.

Para já, o novo CR9 tem garantido lugar cativo na guarda-de-honra dos três mitos, formada por nomes como Di Stefano, Garrincha, Eusébio, Puskas, Backenbauer, Platini, Van Basten, Zidade, Figo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho ou o próprio Messi.

O pequeno argentino do Barça será o principal competidor do português na luta pela excelência máxima. Mas Cristiano Ronaldo possuiu valores-extra para a refrega: o seu grande carisma, sex-appeal e mediatismo. Desde que estes não se virem contra ele, claro.

O que têm em comum os grandes deuses do futebol mundial? Tal como Ronaldo, todos eles foram muito precoces: Pelé e Maradona estrearam-se aos 15 anos na primeira divisão dos respectivos países. O brasileiro chegou mesmo à Selecção brasileira com 16 e foi campeão do Mundo com 17, num registo virtualmente impossível de bater. Com essa idade, Cruyff e Ronaldo estreavam-se no Ajax e no Sporting, respectivamente.

Curiosamente, o Rei dos Reis, Pelé, foi de todos o que menos dinheiro movimentou na sua carreira, em virtude de ter vivido noutros tempos e de jurar amor eterno ao seu Santos. Maradona, Cruyff e, agora, Ronaldo partilham o facto de a dado momento terem estabelecido recordes mundiais de transferências – por duas vezes no caso do argentino.

Ao nível de troféus conquistados, será difícil pedir meças aos três campeonatos do Mundo de Pelé. Maradona ganhou um (1986), quase sózinho, Cruyff ficou muito perto com a Laranja Mecânica que encantou o Mundo mas falhou na final de Munique (1974). Para Ronaldo sonhar com a entrada neste Olimpo é quase obrigatório que conquiste um Mundial ou brilhe intensamente numa fase final.

Isto apesar de, aos 24 anos, estar já bem fornecido de títulos de clube: tri-campeão de Inglaterra, campeão Europeu, campeão do Mundo. E a chegada a um Real Madrid de luxo deve garantir-lhe mais conquistas. Note-se que do nosso clube dourado apenas Maradona não detêm qualquer título continental de clubes (apenas uma Taça UEFA), já que Cruyff foi tricampeão europeu no Ajax e Pelé ganhou duas Taças dos Libertadores da América.

Por último, os prémios individuais. Pelé e Maradona dividem o título de melhor jogador do século XX da FIFA (público e especialistas da FIFA não estiveram de acordo), e juntamente com Cruyff foram considerados reis de um Campeonato do Mundo (1970-Pelé; 1974-Cruyff; 1986-Maradona). Confirmando assim qual deve ser a grande luta de Cristiano Ronaldo nos próximos anos: fazer de Portugal campeão do Mundo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

DIZ-ME ONDE COMPRAS, DIR-TE-EI COMO JOGAS


por Ivo Costa

Pouco a pouco desenham-se os plantéis dos grandes para a temporada 2009/10. O FC Porto aposta em jovens valores nacionais, mas o Sporting é a equipa mais portuguesa. Benfica mantém estatuto importador.

Os golos de Nenê ao serviço do Nacional da Madeira na última temporada precipitaram um conjunto de possíveis interessados no avançado brasileiro, que acabou por ser o artilheiro da liga portuguesa. Mas, desde logo, o homem forte do futebol do FC Porto fez uma das raras incursões em direcção aos microfones para dizer à nação portista que a aposta do dragão para a temporada 2009/10 ia incidir em jovens promessas nacionais. Antero Henrique não mentiu! Um olhar pela folha de serviço do FC Porto neste defeso mostra que em seis aquisições já realizadas, apenas dois atletas não têm nacionalidade portuguesa. O defesas Maicon e Álvaro Pereira e médio Bellushi são os estrangeiros recém-chegados ao Dragão mas, no caso do central oriundo do Nacional da Madeira, até já conhece (e bem) o andamento do futebol luso. Há, portanto, uma diferença substancial entre o FC Porto deste defeso e o da época passada, na qual apostou forte no mercado sul-americano, mercê da bonificada margem de manobra que o director geral da SAD possui naquele território.

A sul, o cenário muda de figura, sobretudo se estacionarmos a nossa atenção no estádio da Luz. Rui Costa mantém-se focado em nomes sonantes. Saviola e Ramires são dois interessantes cartões de visita para o plantel de Jorge Jesus e que se juntam a Shaffer e Patric no lote de contratados. Todos estrangeiros, o que não é novidade por aquelas bandas, onde o samba e o tango vão continuar a abafar o saudosismo em relação às épocas em que na Luz se encantava em português.

Já o plantel do Sporting mais parece um automóvel com 10 anos e menos de cinco mil quilómetros. É um daqueles usados que todos gostaríam de encontrar, mas nunca sabemos se está preparado para grandes viagens, por isso há que lhe mudar o óleo... no mínimo. É o que fazem os leões ao contratar o chileno Matias Fernández. Trata-se de uma revisão de um motor que (por não ter feito grandes viagens com Paulo Bento ao volante) se mantém intocável em todos os sectores. O facto de ter contratado um único jogador até ao momento, e por sinal estrangeiro, não belisca o facto dos leões poderem ser a equipa mais portuguesa dos três grandes do futebol nacional. Benfica e FC Porto devem ter na maioria dos jogos, senão em todos, menos de metade do onze inicial a falar a língua de Camões.

Nos duelos que se avizinham em cada um dos centros de estágio é dificil não começar pela baliza onde Helton e Beto vão discutir taco-a-taco a titularidade no FC Porto. A música do brasileiro tem, esta época, que ser mais consistente se não quiser ter de perseguir a batida de Beto impulsionado pela recente chamada à Selecção A. No Benfica importa perceber quem vai ceder com a chegada de Saviola, que manteve com Aimar uma dupla de respeito ao serviço do River Plate, enquanto que, nos leões as mexidas só devem acontecer no meio-campo ofensivo. A possível sombra de Matias Fernández a Vukcevic acaba, ainda assim, por se esfumar na possibilidade do montenegrino ser destacado para a frente de ataque em função da falta de recursos neste sector com a saída de Derlei. Em Alcochete não se prevêm grandes batalhas pela titularidade com tudo o que isso pode ter de negativo numa estrutura que se mantém inalterada.

Sejam bem vindos!

Época nova, blog novo. A FOOTBALL IDEAS está preparada para o pontapé de saída da temporada 2009/10 e falta apenas a bola rolar! Venha ela...