domingo, 30 de agosto de 2009

Novo treinador? Mas qual?

João Nuno Coelho - FOOTBALL IDEAS

Eliminado da Liga dos Campeões pela Florentina, Sporting está a realizar um dos seus piores arranques de temporada de que há memória.

A paciência dos adeptos leoninos está esgotada. E o mesmo pode acontecer com a dos dirigentes caso a equipa de Paulo Bento não seja bem sucedido na deslocação a Coimbra, neste fim de semana. O treinador português poderá ter os dias contados e tudo parece indicar que a solução terá que vir de fora: um novo treinador, uma nova filosofia, novos métodos. A solução externa deverá ter sinda um outro sentido, na forma de um treinador estrangeiro que devolva a confiança e a ordem ao balneário leonino.

Vamos supor que o Sporting não ganha à Académica. Será o sétimo jogo oficial sem qualquer triunfo (para já contam-se cinco empates em seis encontros) e a desvantagem para os outros grandes pode subir para cinco ou seis pontos, com apenas três jornadas disputadas. Ainda para mais, o Sporting empatou todos os últimas três partidas que realizou na Liga com os “estudantes”. Além disso, os efeitos da ausência de Izmailov, Postiga, Caicedo e Vukcevic (o único que pode regressar em Coimbra) apenas têm confirmado as limitações existentes no plantel e não auguram nada de bom para o jogo de domingo. Como se isso não bastasse, Liedson não tem resolvido (sete jogos sem marcar) e o principal reforço, Matias Fernandez, tarda em justificar o investimento realizado.

Os sportinguistas esperavam que o golo decisivo marcado no quarto minuto dos descontos da segunda-mão da terceira pré-eliminatória das Liga dos Campeões com o Twente pudesse ter despertado a sua equipa. Mas a fragilidade e apatia que a equipa transmite neste início de temporada mantêm-se e podem agora ser agravadas pelo falhanço europeu, que tem custos financeiros e desportivos muito graves. O Sporting de Paulo Bento leva quase cinco anos de construção mas parece cada vez menos consistente, cada vez menos equipa. E nestas alturas quem costuma pagar a factura é o treinador. Até porque Paulo Bento assumiu o risco de insistir no conservadorismo que sempre o caracterizou – manteve os jogadores e a abordagem tática. E está a perder em toda a linha, pelo que é urgente que a Direcção do clube tome medidas sérias para impedir que o resto da época fique condenada logo no seu início.

Claro que a substituição de um treinador nesta fase apresenta dificuldades de monta, a primeira e maior das quais é encontrar um substituto à altura, quando o leque de escolhas se apresenta especialmente reduzido. A história do Sporting aconselha, porventura, a opção por um treinador estrangeiro porque, tal como acontece com o vizinho Benfica, têm vindo de fora os técnicos mais bem sucedidos na vida do clube. Até ao presente, foram mais os estrangeiros a conquistar campeonatos nacionais em Alvalade dos que os portugueses, além de que a cultura do Sporting enquadra-se melhor numa filosofia de jogo ofensiva, que privilegie o bom futebol em detrimento da abordagem conservadora da maioria dos treinadores lusos. Não estivesse o Co Adriaanse, ex-treinador campeão no FC Porto, a meio da sua aventura austríaca (no Salzburg) e esta poderia ser uma solução adequada. O holandês já tem experiência do campeonato português, é conhecido pela sua veia disciplinadora e poderia devolver a alegria e os adeptos às bancadas de Alvalade. Se o conhecimento profundo da Liga Sagres for a condição principal, aí a opção portuguesa de que se fala nos meandros pode ser Carlos Azenha. A aura de novo Mourinho e a passagem pelo FC Porto podem também ser decisivos para a escolha do actual treinador do Vitória Setúbal.

Quadro 1 – Os treinadores estrangeiros campeões no Sporting: 11 títulos no total de 18 conquistados pelos leões

Títulos

Treinador

1940/41, 1943/44

Joseph Szabo

1946/47

Robert Kelly

1950/51, 1951/52, 1952/53

Randolph Galloway

1957/58

Enrique Fernandez

1961/62 e 1965/66

Otto Glória

1981/82

Malcolm Allison

2001/02

Laszlo Boloni

Fonte: Football Ideas

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

DOIS CAMINHOS PARA EVITAR O PENTA

Uma corrida a três pelo título de campeão nacional é o que se prevê, mais uma vez, para a Liga portuguesa. Uma história antiga que tem este época novos cambiantes, dada a possibilidade do FC Porto atingir o seu segundo penta-campeonato.

João Nuno Coelho – Football Ideas

O Sporting quase não mudou uma vírgula. O Benfica realizou nova remodelação geral, desta vez aparentemente mais planeada e sustentada. Dois caminhos diferentes, mas com o mesmo objectivo: impedir que um FC Porto renovado na continuidade não chegue ao penta.

Os portistas são os favoritos naturais ao lugar mais alto da classificação final. Não foram obrigados a alterações de fundo no seu plantel (só uma transferência já pouco provável do esteio defensivo Bruno Alves pode fazer abanar a estrutura) e arrancam na Liga com apenas três novidades prováveis no onze: Álvaro Pereira, Bellushi e Falcão, os substitutos directos das grandes vendas de Verão, Cissokho, Lucho e Lisandro.

Os dragões parecem, assim, ter conseguido limitar os estragos provocados pela manutenção da sua estratégia vendedora, apesar das novas adaptações poderem implicar uma prova em crescendo. Mesmo assim, Helton, Bruno Alves, Raúl Meireles (todos eles tetracampeões), Fucile (tri-campeão), Farias e Mariano (bi-campeões) devem garantir uma transição suave, pese os pontos de interrogação que se colocam quanto à qualidade das opções para o lado esquerdo da defesa (um velho problema portista) e para o centro do ataque.

O segundo classificado dos últimos quatro campeonatos, o Sporting, seria teoricamente o principal oponente dos portistas. Mas a teimosa politica de contenção financeira da SAD leonina limita em muita esta possibilidade, impedindo que Paulo Bento possa reforçar o conjunto em posições que se apresentam muito debilitadas, designadamente nas zonas laterais da defesa. No entanto, a estabilidade do plantel e do modelo de jogo verde-e-branco é a receita para candidatura ao título, até porque Sporting foi o que mais jogadores manteve no seu onze-base nos últimos quatro anos: Abel, Polga, Moutinho e Liedson.

Curiosamente, o êxito da equipa de Paulo Bento parece estar muito dependente do que fizerem os dois únicos reforços. No sistema de jogo de Paulo Bento o papel do número 10 é fundamental, pelo que a equipa precisa de um Matias Fernandez ao nível do que prometera no campeonato chileno antes da transferência para o Villarreal. Além disso, o equatoriano Filipe Caicedo anuncia-se como o parceiro de ataque ideal para o habitual “abono de família” Liedson.

O caso do Benfica é bem diferente. Os encarnados são já tidos como os grandes rivais do FC Porto neste campeonato, graças a uma bem gizada politica de contratações, cuja pedra de toque foi a opção pelo treinador Jorge Jesus. O técnico português mostrou saber bem o que queria para a equipa e a direcção do clube não lhe negou os reforços desejados, de forma a completar o puzzle que subjaz ao modelo e sistema de jogo delineado por Jesus. A opção por um meio-campo em losango favorece as características do “regressado” Pablo Aimar e a contratação do espanhol Javi Garcia parece ter colmatado um dos problemas tradicionais do conjunto: o posto de médio-defensivo. Ao mesmo tempo, a linha defensiva mantém-se estável (incluindo os dois únicos sobreviventes das quatro últimas temporadas, Quim e Luisão), enquanto o ataque foi bem reforçado, com as chegadas de Saviola e Weldon.

Veremos agora como, no campo de jogo, Benfica e Sporting serão, ou não, capazes de impedir a continuação da hegemonia portista, que permitiu aos dragões ganhar quatro campeonatos seguidos, nos quais teve sempre o melhor ataque e a defesa menos batida. Para tal será fundamental que melhorem substancialmente os seus números estatísticos fundamentais ao nível ofensivo (remates, passes de ruptura e recuperações em campo adversário), que têm sido claramente favoráveis aos azuis-e-brancos nas últimas temporadas.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

SPORTING: MUDAR OU...MUDAR


O Sporting sobreviveu, qual gato com sete vidas, à terceira eliminatória da Liga dos Campeões. Mas continua a não convencer.

João Nuno Coelho – Football Ideas

Não tivesse Rui Patrício acordado daquele torpor colectivo que domina a equipa do Sporting neste início de época e talvez a esta hora Paulo Bento estivesse a arrumar os seus pertences no gabinete de Alcochete. Mas aquela forte lufada de ar sob forma de auto-golo que encheu o balão de oxigénio leonino no minuto 94 do jogo com o Twente pode voltar a esvaziar-se rapidamente se algo não mudar a breve trecho no reino do leão.

Por vezes, não é apenas um jogo de futebol que se transforma radicalmente num instante de felicidade. Um golo decisivo marcado no quarto minuto dos descontos da segunda-mão de uma terceira pré-eliminatória das Liga dos Campeões pode alterar o curso de toda uma temporada. É nisso que os adeptos sportinguistas querem acreditar, mas nem eles parecem convencidos. Para já limitam-se a suspirar de alivio por verem o Sporting não ser eliminado da Champions por uma equipa da terceira linha europeia, que foi quase sempre melhor em toda a eliminatória, tendo actuado uma parte substancial da mesma com apenas 10 homens.

Mais do que os resultados obtidos até este momento, o que deprime os adeptos leoninos é a sensação de fragilidade e apatia que a sua equipa transmite neste início de temporada. O Sporting de Paulo Bento tem cinco anos de construção mas parece cada vez menos consistente, cada vez menos crente nas suas capacidades, cada vez menos equipa. Os dados estatísticos principais das últimas temporadas demonstram-no: constante decréscimo de golos, de remates, de situações de perigo junto à baliza adversária, de passes de ruptura.

A Paulo Bento parece não restar outra alternativa senão mudar para melhorar. Porque o seu conservadorismo empedernido já deu o que tinha a dar – a teimosia tem que ter limites. Ora, essa mudança só pode ter dois caminhos, alternativos ou complementares.

O primeiro passa por voltar ao mercado enquanto pode, ou seja, durante o mês de Agosto. Os mais de três milhões de euros que valeu o golo-milagre de Enschede (e que podem ser multiplicados várias vezes se a equipa passar o play-off final da fase de grupos da Champions) devem ser aplicados no reforços do plantel nas áreas mais fragilizadas, designadamente as alas, onde Pedro Silva, Abel, André Marques e Caneira não conseguem dar a necessária profundidade e rapidez a uma equipa que joga sem extremos.

O segundo caminho possível para Paulo Bento é criar finalmente uma alternativa credível ao seu sistema, o famoso 4x4x2 com o meio-campo em diamante, que parece ter-se tornado uma espécie de obsessão para Bento. A previsibilidade do jogo leonino passou a ser o inimigo público da própria equipa, ainda para mais demasiado dependente de uma posição que não tem tido protagonista à altura: o malfadado número 10, que Romagnoli deixou de ser, Moutinho nunca foi nem será, e que Matias Fernandez tarda a agarrar.

Claro que estes dois caminhos de mudança não terão resultados a curto prazo, muito menos a tempo do play-off da Liga dos Campeões, mas a época ainda agora começou e o confronto interno com os rivais directos é a verdadeira meta de um clube grande em Portugal. Além de que para enfrentar o decisivo confronto europeu e as primeiras jornadas da Liga Portuguesa, só resta um terceiro caminho a Paulo Bento, se calhar o mais decisivo: devolver a alegria de jogar aos seus comandados.

Quadro 1 – Dados fundamentais do Sporting na Liga Portuguesa (médias por jogo)

Elementos / épocas

2006/07

2007/08

2008/09

Golos

1,8

1,6

1,5

Remates

14,8

14,5

12,3

Remates perigosos

8,1

7,2

5,6

Passes ruptura

12,9

8,3

6,1


Fonte: Football Ideas

Quadro 2 – Dados fundamentais do jogo Twente-Sporting (2ª mão da 3ª eliminatória da Liga dos Campeões 2009/10)

Elementos / equipas

Twente

Sporting

Golos

1

1

Remates

10

7

Remates perigosos

4

1

Passes ruptura

8

3

Fonte: Football Ideas

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

CONTRA O PENTA, COMPRAR, COMPRAR


Por João Nuno Coelho

O plantel foi dado como fechado em mais do que um ocasião, mas o Benfica continua a comprar jogadores. E, aparentemente, bem, apesar dos riscos óbvios.

Numa escala mais pequena, o Benfica está a imitar o Real Madrid. Para interromper a hegemonia do principal rival, os encarnados dão tudo o que têm (e não têm) para fazer uma grande equipa e reconquistar a glória perdida. E para retirá-la ao FC Porto, que tem o penta-campeonato como grande objectivo para esta época.

Fica mais uma vez provado que o futebol nunca será apenas um negócio – vive de razões que muitas vezes a razão desconhece. É movido por paixões, amores e ódios, ambições e rivalidades cegas. O Benfica está desesperado por vitórias e não olha a gastos para as concretizar. Já gastou quase 25 milhões de euros em contratações, apesar de ter realizado apenas dois milhões e meio em transferências (Katsouranis), mesmo que Luisão e Di Maria fossem negócios potencialmente lucrativos. A comparação com o FC Porto é mais uma vez inevitável: os portistas já abriram mão de 21 milhões de euros em reforços mas encheram os cofres com 64 milhões na vendas de jogadores.

Muitos se questionam onde vão os encarnados buscar o dinheiro para tal escalada de contratações. A resposta é simples: tal como o Real Madrid, o Benfica está a endividar-se na banca com empréstimos que poderão, caso as coisas corram mal no terreno de jogo (como acontece tantas vezes no futebol), pôr em risco o futuro do clube.

No entanto, os dirigentes encarnados têm um mérito inquestionável: a estratégia é arriscada, mas parece guiar-se por critérios acertados em termos de formação de um plantel competitivo e equilibrado. E pese a importância de Rui Costa neste processo, não restam dúvidas de que é Jorge Jesus que faz as escolhas, demonstrando que assegurou desde cedo o protagonismo nas decisões sobre o destino da sua equipa.

Demonstrando um grande à-vontade na sua estreia num grande, Jesus mostra ter um plano para o Benfica. Definiu um modelo de jogo e respectivo sistema tático, passando depois a completar o puzzle com os jogadores que entendia adequados, garantindo duas alternativas credíveis por posição, sem cair na tendência (que Camacho e Quique protagonizaram) de tapar buracos com a polivalência. E mesmo quando o plantel parecia fechado, Jesus não hesitou em pedir novos jogadores para as posições que lhe pareceram mais débeis. Faltava-lhe um trinco de raiz, veio Javi Garcia. O ataque estava demasiado dependente de Cardozo e Saviola, chegou Keirrison. Os três guarda-redes não lhe davam totais garantias, pediu Júlio César.

E pode ser que não fique por aqui. Como Fábio Coentrão não lhe assegura uma alternativa completa a Di Maria, acenou ao seu velho conhecido César Peixoto, que pode muito bem ser mais um apóstolo de Jesus no Benfica.

Quadro 1 - ENTRADAS

Proveniência

Valor transf.

RAMIRES

Cruzeiro

7,5 milhões euros

JAVI GARCIA

Real Madrid

7 milhões euros

SAVIOLA

Real Madrid

5 milhões euros

PATRIC

São Caetano

3 milhões euros

SHAFFER

Racing

1,5 milhões euros

JÚLIO CÉSAR

Belenenses

500 mil euros

WELDON

Sport Recife

250 mil euros

KEIRRISON

Barcelona

Emprestado

Quadro 2 – SAÍDAS

Destino

Valor transf.

KATSOURANIS

Panatinaikos

2,5 milhões euros

REYES

At. Madrid

Fim do empréstimo

SUAZO

Inter Milão

Fim do empréstimo