terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O BOM, O MAU, O ASSIM-ASSIM E O…QUARTO MOSQUETEIRO


João Nuno Coelho / Football Ideas

O presente campeonato está a reeditar a obra-prima de Alexandre Dumas, em que os Três Mosqueteiros eram...quatro. O outsider Sp. Braga faz de D’Artagnan.

Decorridas dezassete jornadas, poucos esperariam que a equipa de Domingos Paciência pudesse ser líder. Mas justiça lhe seja feita, é mesmo o grande destaque desta edição da Liga, a par de um bom Benfica, um mau Sporting e um tetra-campeão FC Porto...assim-assim.

Nunca na história da I Liga o Sp. Braga terminara a primeira volta à frente do campeonato. E os bracarenses ainda cometeram a proeza de bater os três grandes, completando esta fase com apenas uma derrota. No entanto, as finanças falaram mais alto quando o Sporting investiu sobre João Pereira, demonstrando que ainda faltam estatura e estrutura aos minhotos para lutarem pelo título máximo. A não ser que Domingos Paciência e os seus homens se superem nos próximos meses e não sejam atingidos por lesões, nomeadamente as peças fundamentais da equipa nesta temporada, como Moisés, Evaldo, Alan e Mossoró.

O grande adversário do Sp. Braga é para já o Benfica. A águia renasceu pela mão de Jorge Jesus, que escolheu a dedo as peças para completar o “puzzle” do seu modelo de jogo, conseguindo ainda criar um espírito de conquista na Luz que há muito não se via. Os encarnados jogam bom futebol e vencem, algo que não conciliavam há mais de quinze anos, nos quais conquistaram apenas um título nacional, ficando a dever muito à grandiosa história do clube, que antes disso vencera, em média, um campeonato em cada dois disputados.

Para esta melhoria substancial, contribuiu acima de tudo, um aumento impressionante de eficácia de remate relativamente à época anterior, principalmente nos lances de bola parada. Os encarnados marcaram mais de 50% dos seus golos desta forma, o que demonstra muito trabalho e rigor na preparação dos encontros. Igualmente decisiva tem sido a acção dos dois avançados das águias, com Cardozo e Saviola a terem influência directa em 30 dos 42 tentos marcados pelo Benfica, através de assistências e finalizações.

O FC Porto, em busca da repetição do penta de 1995-1999, vê-se pela primeira vez em oito anos despojado do título de Campeão de Inverno. Nesses oito campeonatos, apenas em 2004/05 deixou fugir o título nacional. Curiosamente, os portistas até contam mais um ponto na classificação e apresentam dados colectivos muito semelhantes relativamente à Liga transacta, mas a sua qualidade de jogo baixou e a sede de vitórias parece ter dado lugar a algum conformismo. A perda da dupla Lisando/Lucho teve consequências nefastas, ao nível da agressividade e intensidade de jogo, principalmente na capacidade de realizar as famosas transições rápidas para o ataque. Um Bruno Alves cada vez mais imperial na defesa e o apetite goleador de Falcao têm evitado males maiores e os dragões continuam, apesar de tudo, em todas as frentes competitivas.

O caso do Sporting é bem mais sério. Os adeptos leoninos viveram um pesadelo de início de temporada, com o pior arranque de campeonato dos últimos anos, dada a falência do sistema de Paulo Bento. A equipa perdeu a estabilidade e os números colectivos da primeira volta caíram a pique em comparação com os da época passada, nomeadamente em termos ofensivos, com menos golos, remates e passes de ruptura. Temeu-se mesmo que o clube de Alvalade tivesse entrado mesmo num processo de crise irreversível a curto-prazo, mas a chegada de Carlos Carvalhal e o recurso ao mercado (que fôra recusado a Paulo Bento) trouxe nova vida ao leão, que acabou a primeira volta a subir posições na tabela, chegando à quinta posição, muito graças à temporada de ouro de Miguel Veloso. O objectivo do título parece mesmo impossível depois da derrota em Braga mas o orgulho leonino parece estar em franca recuperação.

Num aspecto os três grandes estão em sintonia: mantêm-se nas competições europeias, o que demonstra uma sempre saudável competitividade internacional do futebol português. Veremos até que ponto a continuidade nas próximas fases das provas europeias poderá ser um factor importante no desenrolar do campeonato nacional, sendo que nesse particular a vantagem para já é do outsider Braga, eliminado da Liga Europa logo na primeira eliminatória.

domingo, 10 de janeiro de 2010

A LIÇÃO DO FUTEBOL


João Nuno Coelho / Football Ideas

Em ano de Campeonato do Mundo, o futebol português (e principalmente a sua Selecção Nacional) demonstra uma competitividade internacional muito superior à dos outros sectores da vida económica e social do país

A Selecção portuguesa ocupa um impressionante sétimo lugar entre as equipas nacionais mais valiosas do Mundo, tendo em consideração uma estimativa dos direitos económicos dos seus jogadores. O estudo realizado pela “Fooball Finance”, baseia-se na avaliação dos direitos económicos dos 25 jogadores mais utilizados por cada selecção nacional, durante a fase de qualificação para o Mundial e nos mais recentes jogos de preparação. Os valor de cada um dos jogadores foi apurado mediante a consulta de vários agentes e agências FIFA, bem como de diversas empresas de scouting, com experiência na avaliação de direitos económicos de jogadores de futebol.

Se tivermos ainda em conta que Portugal ocupa neste momento o quinto lugar do ranking oficial da FIFA, não resta qualquer dúvida que a Selecção nacional possuiu um valor e qualidade internacionais que não tem concorrente à altura em nenhum outro sector da cultura e da economia portuguesas. Refira-se como exemplo comparativo que Portugal se encontrava apenas na 38ª posição mundial em termos de Produto Interno Bruto em 2008, segundo dados do Fundo Monetário Internacional.

Tal competividade internacional no futebol de um país com apenas 10 milhões de habitantes é ainda mais notável, sendo que Portugal é o menos populoso de entre os sete países mais cotados nesta avaliação da Football Finance. Esta realidade apenas se pode explicar através do desenvolvimento de um importante know how específico ao nível da formação de futebolistas e treinadores, um campo em que o futebol português pode dar lições relevantes a outras áreas sociais e económicas.

Naturalmente, terão que se considerar outras variáveis na análise da posição de destaque da “equipas das quinas” neste estudo. E algumas delas envolvem factores um pouco aleatórias e de difícil controlo, como é o caso do surgimento de um talento como o de Cristiano Ronaldo, neste momento detentor do recorde de transferências em termos mundiais com a chegada ao Real Madrid. O CR9, que no fim da temporada 2008/09, quando actuava no Manchester United, ocupava apenas a quarta posição dos mais bem pagos, será hoje porventura o mais valioso futebolista à escala global (a par de Leonel Messi), o que obviamente influencia de forma determinante os resultados deste estudo.

Merece ainda destaque o valor total das selecções que englobam o Grupo G da fase final do Campeonato do Mundo de 2010, a disputar na África do Sul, a partir de 11 de Julho, e de que Portugal faz parte. Trata-se do grupo vais valioso da competição, o que se deve em grande medida à presença do Brasil (o maior exportador mundial de talento futebolístico desde há décadas), que apesar de tudo ocupa apenas a segunda posição desta tabela, tal como acontece no ranking da FIFA. Em ambos os casos a equipa do momento é a Selecção espanhola, que vive o período de maior apogeu de uma história poucas vezes caracterizada pelo sucesso desportivo.

Curiosamente, a Espanha tem apenas tem dois jogadores no clube dos 20 mais bem pagos em 2008/09, e apenas na 18ª e 19ª posições, com o guarda redes Iker Casillas e o médio do Arsenal, Cesc Fabregas. Esta classificação é, aliás, dominada pelos futebolistas ingleses (5), italianos (4) e brasileiros (3), assumindo-se como surpreendente a escassa representação argentina (1), alemã (1) e francesa (1).

domingo, 3 de janeiro de 2010

COMEÇAR DE NOVO


Joel Lopes, com João Nuno Coelho / Football Ideas

Ano novo, época (quase) nova. A meio da temporada é tempo de emendar a mão relativamente às opções de início de temporada, principalmente quando os resultados estão longe de agradar.

Na Liga Portuguesa, o quinto lugar do Sporting obrigou José Eduardo Bettencourt a quebrar a famosa filosofia de contenção financeira que o impediu de satisfazer os pedidos de reforços de Paulo Bento há apenas seis meses. Ninguém sabe como é que Carlos Carvalhal convenceu os responsáveis leoninos a pagarem seis milhões de euros por um Sinama-Pongolle quase caído no esquecimento e três milhões por um defesa-direito (João Pereira, do Sp. Braga). Mas conseguiu. E mesmo que o campeonato seja já uma quimera para os sportinguistas, pelo menos o fosso para Benfica e FC Porto deve diminuir. Enquanto isso, o Benfica continua a fazer apostas cirúrgicas em jovens promessas brasileira e o FC Porto acredita que tem o material humano necessário no seu plantel inicial para chegar ao penta.

Em Espanha, a lesão de Pepe trouxe mais uma dor de cabeça a Pellegrini, treinador do Real Madrid. O azar do central brasileiro pode ser a sorte de David Luíz ou mesmo de Bruno Alves. O brasileiro é mais barato mas os €30 milhões da cláusula de rescisão de Bruno Alves e a impossibilidade de jogar na Champions parecem um pormenor perante a necessidade do eixo da defesa madrilena. Na Catalunha, o momento é de euforia. O Barcelona ganhou tudo o que havia para ganhar e Guardiola quer pequenos retoques na equipa. Robinho estava apalavrado para Janeiro por troca com Henry. Conseguirá Mancini segurar o astro brasileiro? Já Fabregas vai ter de esperar que os responsáveis do Arsenal sosseguem. Nos últimos dias, a direcção dos gunners disse estar pelos cabelos com o assédio do Barça ao criativo espanhol e ameaçou processar os catalães.

Na “Velha Albion”, o mercado de Inverno nem sequer arrancou e a Premiership já mexeu. É caso para dizer que em Manchester há poucos motivos para sorrir. O bilionário Manchester City, propriedade do sheik Mansour, emir de Abu Dhabi, prometia tornar-se numa potência do futebol à escala planetária. Um sexto lugar a meio da temporada acabou com a paciência dos dirigentes dos citizens e Mark Hughes foi mandado para casa. De Itália, chegou Roberto Mancini, desempregado de longa duração, que reentra no futebol pela porta grande, uma vitória no jogo de estreia e uma mão cheia de nomes para reforçar um plantel onde se gastou dezenas de milhões de libras no início da época. Para o italiano, não bastam Tevez, Adebayor, Santa Cruz e Touré. O caderno de encargos de “Mancio” passa pelo argentino Córdoba, suplente no Inter, e o italiano Pazzini, atacante da Sampdória, ambos disponíveis para mudar de ares. Se dinheiro não é problema para os petrodólares dos citizens, já o interesse do rival Manchester United no central da formação de Turim pode deitar por terra as esperanças em blindar um dos sectores mais frágeis da equipa azul celeste. Em Old Trafford, o United sofre para defender o título. A onda de lesões na defesa atirou os red devils para o segundo lugar da Premiership e Alex Ferguson veio dizer que “não vê a luz ao fundo do túnel”. Rio Ferdinand está a braços com uma gravíssima lesão que pode mesmo afastá-lo do Mundial em 2010.

Finalmente, em Itália há sentimentos diversos. A Juventus agoniza num penoso terceiro lugar e saiu prematuramente da Champions League. Os €50 milhões gastos em Felipe Mello e Diego não renderam o esperado. Ciro Ferrara tem mais dois jogos para manter o lugar. Scolari confirmou contactos para mudar para o Olímpico de Turim mas recusou. Nedved será o senhor que se segue? Mais animado com os resultados anda Leonardo. O novo técnico do Milan pode contar com mais um trintão em Janeiro, de seu nome David Beckham, para segurar o segundo lugar no Calcio já que Mourinho deve reconquistar o scudetto. Mais difícil será manter o objectivo de chegar à final da Champions no Bernabéu. O montenegrino Goran Pandev, da Lazio, será nerazurro a partir de Janeiro para compensar a ausência de Eto’o durante a CAN. Como prémio de consolação, o special one regressa em Fevereiro a Stamford Bridge para defrontar o clube do seu coração. Ancelotti pediu a normalização das relações entre ambos mas o speciale já foi observar um jogo do Chelsea em casa dois meses antes do grande confronto. Quem inventou os mind games?