terça-feira, 20 de outubro de 2009

O perigo cipriota


Por Nuno Oliveira / Football Ideas

Fica o aviso à navegação, até agora bastante segura do navio-dragão na Liga dos Campeões: o mar Mediterrâneo está bem mais encrespado lá para os lados do futebol cipriota.

Com o Atlético de Madrid em crise, as contas portistas até parecem simples: duas vitórias no duplo confronto com o APOEL Nicósia, que se inicia esta quarta-feira no Dragão, praticamente asseguram a quarta presença consecutiva nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. O problema é que o adversário cipriota já não é favas-contadas. Bem pelo contrário, como provam os últimos resultados.

O APOEL afastou o Partisan de Belgrado (Sérvia) e o FC Copenhaga (Dinamarca) para chegar à fase de grupos, no qual já conseguiu empatar em Madrid com o Atlético, perdendo pela margem mínima com o Chelsea, em Nicósia.

O crescimento internacional do futebol cipriota já ficara patente na época passada, aquando da primeira presença de sempre de uma equipa do país na fase de grupos da Champions. A Europa esbugalhou os olhos perante o comportamento descomplexado do desconhecido Anarthosis Famagusta, que perdeu apenas dois encontros e empatou com Inter de Milão e Werder Bremen (duas vezes), vencendo mesmo o Panathinaikos. Isto depois de já ter afastado o Olympiacos na última pré-eliminatória.

A carreira recente da selecção cipriota apenas confirma esta ascensão: nas últimas três partidas, empatou na Macedónia, goleou a Bulgária (4-1) e perdeu pela margem mínima em Itália (onde esteve a ganhar por 2-0). Tudo isto testemunha a ascensão do futebol de Chipre, na sequência de de um processo muito em voga na história recente da modalidade no leste da Europa: empresários poderosos (muitas vezes com passados obscuros) descobriram o futebol como mercado de fortes investimentos, materializados na compra de clubes e no seu reforço com numerosos jogadores estrangeiros, designadamente sul-americanos.

No caso do Chipre (mas também da Roménia, por exemplo), os futebolistas portugueses têm igualmente despertado o interesse destes empresários e nesta ilha do Mediterrâneo jogam nada menos do que 47 jogadores lusos, a maior parte dos quais desconhecidos em Portugal. Aliás, o campeonato do Chipre deve ser um dos únicos no mundo em que existe uma comunidade estrangeira mais numerosa do que a brasileira. O caso mais significativo e quase inverosímel é o do DOXA Katakopia FC no qual 11 portugueses fazem parte do plantel (no qual existem nove cipriotas e três brasileiros). Como nove desses lusos são habitualmente titulares é caso para dizer que estamos perante a mais portuguesa equipa de primeira divisão do futebol mundial.

Segundo os treinadores e jornalistas locais esta vaga de imigração de jogadores portugueses tem elevado o nível do jogo praticado e o entusiasmo popular à volta do mesmo. Simultaneamente a Associação de Futebol local tem protagonizado um enorme empenho no desenvolvimento deste desporto, com a aposta na organização de cursos internacionais de treinadores, de escolas e torneios de futebol juvenil, entre outras iniciativas, que tornam o pequeno Chipre numa nova Meca do futebol.

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