sábado, 12 de setembro de 2009

Sofrer 7 golos: o milagre segundo Jesus


João Nuno Coelho .- Football ideas

O Benfica de Jorge Jesus concedeu dois golos nos quatro jogos realizados até agora na Liga. Parece, pois, longínqua a meta dos sete tentos sofridos em toda a prova.

Jesus é conhecido por ser especialista na motivação dos seus púpilos. O desafio lançado à sua equipa para bater o recorde do menor número de golos sofridos na história da Liga Portuguesa pode ser uma jogada psicológica de mestre mas está muito longe de ser realista.

Antes de mais, porque só por uma vez um conjunto desceu da dezena de golos concedidos em toda a prova – o FC Porto de José Maria Pedroto, em 1979/80, num campeonato que perdeu sobre a meta para o Sporting, falhando o possível primeiro “tri” portista.

Segundo, porque a defesa encarnada, que não sofreu qualquer alteração de fundo relativamente às últimas temporadas, tem sido a mais batida de entre os “grandes”, com 73 golos concedidos, contra 51 do Porto e 63 do Sporting.

Para alcançar esse objectivo quimérico, ou pelo menos ficar lá perto, conseguindo em grande medida retirar efeitos positivos deste seu desafio aos jogadores, seria necessário que Jorge Jesus resolvesse alguns dos problemas vitais que têm afectado a qualidade defensiva do conjunto encarnado, que podem ser analisados da seguinte forma.

1. o guarda-redes: A questão da baliza parece não estar ainda completamente resolvida. Ao comprar um guardião que conhece bem (Júlio César) ao Belenenses, Jesus demonstrou que não deposita total confiança em Quim e Moreira. As saídas aos cruzamentos são, claramente, o principal ponto-fraco partilhado pelos dois internacionais portugueses, um aspecto que pode estar estreitamente ligado ao segundo motivo identificável para a permeabilidade defensiva do Benfica nas últimas temporadas.

2. as bolas paradas: Apesar de ser a equipa portuguesa que mais golos marcou em lances deste tipo nos tempos mais recentes (desde 2006/07), tendo ainda obtido metade dos seus actuais dez golos na Liga a partir de cantos e livres, a Águia é igualmente a que mais concede tentos em jogadas estudadas. E isso não acontece através de penaltis e livres directos, mas sim na sequência de cantos, livres-cruzamento e até de lançamentos laterais, nos quais as competências dos guarda-redes têm um papel fundamental.

3. o contra-ataque: outros dos pontos de maior vulnabilidade da equipa encarnada têm sido as jogadas de contra-ataque, que estiveram na origem de mais de um-terço dos golos concedidos nas três épocas referidas, número bem superior ao dos seus adversários directos, principalmente o Porto, especialista em controlar as contra-ofensivas adversárias.

4. o lado esquerdo da defesa: na época passada, a maior parte dos golos sofridos pelo Benfica resultaram de remates executados sobre o flanco esquerdo da área defensiva, que concede ainda mais cruzamentos do que o flanco oposto. Na presente temporada, a zona mais débil da defensiva encarnada continua a ser a lateral-esquerda, como fica provado pelo superior número de remates concedidos e pelas hesitações do treinador entre David Luíz, Shaffer e César Peixoto.

Assim, fica claro que se Jesus quer ter uma defesa consistente e a menos batida do campeonato (o que costuma assegurar títulos), tem ainda muito trabalho pela frente, sendo que o equilíbrio transmitido no miolo por Javi Garcia e Ramires pode ter uma palavra importante neste processo.

Quadro 1: Golos sofridos pelo Benfica nas últimas três temporadas de bola parada e contra-ataque.

2006/07

2007/08

2008/09

Total

Bola Parada

5

6

17

28

Contra-ataque

4

8

4

16

Fonte: Football Ideas



Quadro 2 – Defesas menos batidas na história da I Liga (1935-2009)

ÉpocaEquipa - Golos sofridos Class. final Nº Equipas
1979-80 FC PORTO 9 16
1992/93 FCPORTO 11
18
1977/78 BENFICA 11 16
1974/75 BENFICA 12
16

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