segunda-feira, 10 de agosto de 2009

SPORTING: MUDAR OU...MUDAR


O Sporting sobreviveu, qual gato com sete vidas, à terceira eliminatória da Liga dos Campeões. Mas continua a não convencer.

João Nuno Coelho – Football Ideas

Não tivesse Rui Patrício acordado daquele torpor colectivo que domina a equipa do Sporting neste início de época e talvez a esta hora Paulo Bento estivesse a arrumar os seus pertences no gabinete de Alcochete. Mas aquela forte lufada de ar sob forma de auto-golo que encheu o balão de oxigénio leonino no minuto 94 do jogo com o Twente pode voltar a esvaziar-se rapidamente se algo não mudar a breve trecho no reino do leão.

Por vezes, não é apenas um jogo de futebol que se transforma radicalmente num instante de felicidade. Um golo decisivo marcado no quarto minuto dos descontos da segunda-mão de uma terceira pré-eliminatória das Liga dos Campeões pode alterar o curso de toda uma temporada. É nisso que os adeptos sportinguistas querem acreditar, mas nem eles parecem convencidos. Para já limitam-se a suspirar de alivio por verem o Sporting não ser eliminado da Champions por uma equipa da terceira linha europeia, que foi quase sempre melhor em toda a eliminatória, tendo actuado uma parte substancial da mesma com apenas 10 homens.

Mais do que os resultados obtidos até este momento, o que deprime os adeptos leoninos é a sensação de fragilidade e apatia que a sua equipa transmite neste início de temporada. O Sporting de Paulo Bento tem cinco anos de construção mas parece cada vez menos consistente, cada vez menos crente nas suas capacidades, cada vez menos equipa. Os dados estatísticos principais das últimas temporadas demonstram-no: constante decréscimo de golos, de remates, de situações de perigo junto à baliza adversária, de passes de ruptura.

A Paulo Bento parece não restar outra alternativa senão mudar para melhorar. Porque o seu conservadorismo empedernido já deu o que tinha a dar – a teimosia tem que ter limites. Ora, essa mudança só pode ter dois caminhos, alternativos ou complementares.

O primeiro passa por voltar ao mercado enquanto pode, ou seja, durante o mês de Agosto. Os mais de três milhões de euros que valeu o golo-milagre de Enschede (e que podem ser multiplicados várias vezes se a equipa passar o play-off final da fase de grupos da Champions) devem ser aplicados no reforços do plantel nas áreas mais fragilizadas, designadamente as alas, onde Pedro Silva, Abel, André Marques e Caneira não conseguem dar a necessária profundidade e rapidez a uma equipa que joga sem extremos.

O segundo caminho possível para Paulo Bento é criar finalmente uma alternativa credível ao seu sistema, o famoso 4x4x2 com o meio-campo em diamante, que parece ter-se tornado uma espécie de obsessão para Bento. A previsibilidade do jogo leonino passou a ser o inimigo público da própria equipa, ainda para mais demasiado dependente de uma posição que não tem tido protagonista à altura: o malfadado número 10, que Romagnoli deixou de ser, Moutinho nunca foi nem será, e que Matias Fernandez tarda a agarrar.

Claro que estes dois caminhos de mudança não terão resultados a curto prazo, muito menos a tempo do play-off da Liga dos Campeões, mas a época ainda agora começou e o confronto interno com os rivais directos é a verdadeira meta de um clube grande em Portugal. Além de que para enfrentar o decisivo confronto europeu e as primeiras jornadas da Liga Portuguesa, só resta um terceiro caminho a Paulo Bento, se calhar o mais decisivo: devolver a alegria de jogar aos seus comandados.

Quadro 1 – Dados fundamentais do Sporting na Liga Portuguesa (médias por jogo)

Elementos / épocas

2006/07

2007/08

2008/09

Golos

1,8

1,6

1,5

Remates

14,8

14,5

12,3

Remates perigosos

8,1

7,2

5,6

Passes ruptura

12,9

8,3

6,1


Fonte: Football Ideas

Quadro 2 – Dados fundamentais do jogo Twente-Sporting (2ª mão da 3ª eliminatória da Liga dos Campeões 2009/10)

Elementos / equipas

Twente

Sporting

Golos

1

1

Remates

10

7

Remates perigosos

4

1

Passes ruptura

8

3

Fonte: Football Ideas

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